quarta-feira, junho 16

Um dia de domingo...


Éramos pequenos. Pelo menos eu era.
Você apenas um menino, todo suado, sujo de lama e eu lembro... Todo domingo tinha grama no seu cabelo. É... os domingos...
Eu achava linda sua admiração pelo Ayrton Senna, ele realmente merecia... E eu não entendi muito bem... Era um domingo qualquer, mas havia algo estranho. Você não tinha suor, nem lama na camisa, muito menos grama na cabeça, Guga.
"Neste primeiro de Maio de 1994, morre em um trágico acidente o piloto Ayrton Senna"...
Te vi saindo como nunca havia visto tal cena em minha vida... Nós sentia-mos a tua dor.
O tempo passou, menino. Eu cresci, mas agora você já era um homem, pelo menos pra mim.
E eu continuava achando lindo quando ia para escola, você jogado nas escadas do prédio. E quando tua irmã me dizia "Só bebe, esse menino" lhe respondia "Quando crescermos vamos ser do mesmo jeito, Renata..." Dizia com os olhinhos brilhando, certamente.
Mais uma vez o tempo passou... A necessidade de ir embora do prédio foi gritando cada vez mais alto, e eu fui... Durante "todo" esse tempo nós nos falamos muito pouco... Em 2004 tudo mudou para nós, não é? Eu me mudei, nossos pais se separaram, Renata, que reclamava tanto de ti, de tão bebada engravidou com 15 anos. E você, Guga? Se internou a primeira vez com problemas no figado... Talvez ela tivesse razão... Tudo precisa de um limite, não é? Talvez o céu fosse o seu... Assim como era o do Senna...
Domingo... 13 de Junho de 2010, Eu não fui à sua casa brincar com tua irmã; não te vi sujo de lama ou fedido a suor, muito menos com grama na cabeça. Era domingo e já não passava pela minha cabeça se você continuara a fazer isso... Provavelmente não, né Guga? Onde você tava? Não sei... Talvez misturando os esportes e correndo, não atrás da bola, mas atrás do Senna... O que se pode pensar o que se passa na cabeça de quem está em coma? hum...
É Gustavo... É estranho... Nós tinha-mos um contato. Eu na minha e você na sua. E sempre nos demos bem assim. Esse contato podia ser frio, podia ser quase gélido, mas era um contato diário e até perceptível pois, se eu deixava de ir um domingo à tua casa, você sentia minha falta! Talvez neste domingo, onde eu não lembrava mais de você, você também não lembrasse mais de mim... ou lembrasse de mais alguém. Mas nós sentimos tua dor Guga. Da mesma forma que tu um dia sentiu a do Senna.
Se estás ao lado dele ou não... Não importa...
Teu futebol, teu suor, tua sujeira e as graminhas no cabelo...
Acho que é isso que você está fazendo agora!
Vai em paz garoto!

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